30.8.07

Um novo olhar sobre o Autismo

Pessoas com essa síndrome têm especial dificuldade de comunicação e interação social. Elas são agitadas. Tem horror de fugir à rotina.

Na classe média, em geral mais conectada, há um crescimento espontâneo, detectado pelo aumento do número de casos tratados em clínicas particulares. “As pessoas ouvem falar a respeito, se informam (...)”. A campanha pró-diagnóstico é positiva. Primeiro, ela permite que o tratamento englobe também casos mais leves (Aspergers ), de pessoas que seriam antes consideradas apenas “esquisitas ”. Pequenos dramas pessoais, de gente com dificuldades nas áreas de comunicação, interação social e foco de interesse, passaram a receber atenção e cuidado. Não existe cura. “Autismo é uma maneira diferente de ser (...)”.


A palavra autismo assusta. No imaginário popular, autistas, vivem isolados num mundo impenetrável, como um olhar perdido, se balançando diante de uma parede, imunes a qualquer afeto. É um estereótipo baseado em casos mais severos e comportamentos aparentemente sem solução de crianças nunca tratadas. Não são apenas os pais que não querem ver. Parentes e amigos também. “Como a maioria dos autistas, tem o aspecto físico de uma criança normal. Nem a expressão facial é diferente. A coordenação motora também é boa. Só o comportamento é diferente".

“A mãe de um autista corre atrás dos dois meninos o dia inteiro. São bastante levados. Abrem torneiras, mexem no fogão, tiram a roupa (...)".

O que é tão especial no autismo que o torna difícil de reconhecer até por médicos? Ele não é uma doença. A psiquiatria moderna o define como um distúrbio do desenvolvimento. Ao que tudo indica, o autismo seria um distúrbio multifatorial – suas causas seriam múltiplas, e não necessariamente as mesmas para duas pessoas.

Um forte indício da multicausualidade do problema é o fato de existirem autistas tão diferentes entre si. Um autista pode ser superdotado ou ter deficiência mental. Incapaz de pronunciar uma palavra ou demonstrar total domínio das regras gramaticais. Por isso, hoje não se fala mais tanto em autismo, e sim em espectro autista. O espectro abrange uma série de distúrbios que vão do autismo clássico, com retardo mental, à síndrome de Asperger, uma forma branda muitas vezes associada a um Q.I. muito acima da média.

Os autistas mais comprometidos são chamados “de baixo funcionamento”. Os mais capazes de levar uma vida normal. Os de “alto funcionamento”, é possível ter uma vida independente.

Associar autismo à genialidade é um mito. “Hoje, é mania dizer que autista é gênio, que Einstein e Newton eram autistas.” Estes, comumente associados, são os Savants (sábios). Há criança com 20 de Q.I. que faz cálculos incríveis. Essas habilidades dificultam o diagnóstico. E tendem a desaparecer conforme a criança adquire outras capacidades. Alguns autistas costumam ter uma síndrome associada, como síndrome de down, cegueira, surdez, esquizofrenia, além também de epilepsia. Uma das maiores carências das famílias de autistas é a recusa deles em receber carinho. Autistas, em geral, têm horror ao toque.

Os especialistas não sabem dizer quanto os autistas têm consciência de suas limitações. Parece certo que, quanto menos comprometido é o autista, mais consciente ele é de sua situação. Tanto que muitos acabam sofrendo de depressão, como um efeito secundário. “Os aspergers, principalmente, sentem que são diferentes. Mas não conseguem entrar em sintonia. Quando eles percebem isso, é um sofrimento atroz (...)”. Outra dúvida angustiante: os autistas não sabem se relacionar com outras pessoas ou simplesmente não têm interesse? As duas coisas. Não só por falta de interesse, mas sim de concentração, vergonha, ou desligamento.

São inúmeros os casos de autistas flagrados em situações que demonstram seu perfeito conhecimento das frases e dos significados. Por algum motivo, eles não conseguem se comunicar.

A estrutura da mente de um autista é diferente. É mais direta, mais reta, não tem atalhos. Como se a mente das outras pessoas fosse o mapa de São Paulo, cheio de curvas e bifurcações, e a de um autista o de Manhattan, só com ruas retas e paralelas. Eles não têm intuição, malícia. Por isso, se interessariam mais por mecanismos, coisas lógicas.

O autista tem dificuldade de prestar atenção. É como se o universo interior os absorvesse repentinamente. Os movimentos estranhos e repetitivos, como balançar a mão, os braços ou mesmo o corpo inteiro, são uma forma de mergulhar ainda mais nesse universo.

Na extremidade mais leve do espectro, os aspergers falam perfeitamente bem. Bem demais, até, sem erros. “Eles só tem dificuldade de usar a linguagem como meio de contato social”. Os obstáculos para a comunicação são sua indisposição ao contato e foco de interesse restrito. Eles podem discorrer horas sobre relações matemáticas ou determinado período histórico, mas não conseguir cumprimentar os vizinhos. Antigamente eles eram considerados esquisitões. (leia mais sobre os Aspergers)

É fácil observar que o autismo é um traço de família. Como parentes que se encaixam no espectro. É comum perceber traços de autismo nos pais que levam as crianças para ser examinadas.

(fonte: Revista Época)

12.6.07

Por que evitamos falar em suicídio?

Ignorado, por medo ou culpa, o suicídio permanece no limbo dos assuntos que o brasileiro evita. À sombra do silêncio, porém, as ocorrências aumentam em ritmo assustador.

Um estudo do Ipea revela que, em 15, de 1990 a 2004, o número de casos saltou 59%, superando de longe o aumento do número de mortes no trânsito (17%) e até o de homicídios (55%). Segundo dados do Ministério da Saúde, é um problema crescente entre jovens de ambos os sexos.

Para cada suicídio a Organização Mundial da Saúde estima que outras dez pessoas tentam se matar, sem sucesso. Na visão do Ministério, a imprensa vem erroneamente menosprezando o assunto, como se ele não existisse. "Não falar, não debater, não mostrar que esse é um problema de saúde pública só agrava o quadro".

Há regiões em que a incidência de comportamentos suicidas preocupa. No Rio Grande do Sul, o índice de suicídio entre a população masculina chega a 15,5 por 100 mil pessoas. Entre a população masculina idosa é ainda pior: são 30 casos por 100 mil habitantes. Só para comparar, a aids matou seis pessoas em cada 100 mil habitantes em 2005.

"O que mais se ouvia, no passado, era 'fulano só está fazendo isso para chamar a atenção'", sobre os sinais emitidos por potenciais suicidas antes de cometer o ato. "...se a pessoa tenta chamar a atenção, e não a recebe, o risco de ela se matar aumenta." Às vezes, as ameaças são para valer. "Nesse período, é comum o familiar pensar que, se a pessoa morresse, seria melhor, porque se livraria de ter de cuidar do outro. Quando a morte vem, a culpa é enorme."

Registros na literatura internacional mostram que 40% dos suicidas procuraram algum serviço de saúde na semana anterior à morte. Hoje, sabe-se que idosos, usuários de drogas e álcool e pessoas que sofrem de esquizofrenia e depressão aparecem em maior número nas estatísticas de suicídio. Mas os mecanismos que levam um indivíduo a acabar com a própria vida são variados e de difícil compreensão.

O suicídio é um fenômeno crescente na sociedade desenvolvida, mas pode ser evitado.
Se não ignorarmos e ficarmos atentos ao problema podemos estar fazendo um bem.


(fonte: Revista Época nº468 - maio/2007)

2.6.07

INTROJEÇÃO - Estrutura do Ego, Função Intrapsíquica e Mecanismos de Defesa

"Introjeção é um mecanismo de defesa geralmente usado quando há carência de contato psicológico amplo entre a criança e o adulto que lhe é significativo; o conflito resultante é internalizado, já que assim pode parecer mais fácil de ser administrado (Pears 1978). Os elementos introjetados podem permanecer como uma espécie de “corpo estranho” dentro da personalidade e geralmente não são afetados por aprendizagens ou desenvolvimentos posteriores, mas continuam a influenciar comportamentos e percepções. Eles constituem uma parte alienada da personalidade, embutida no ego e vivenciada fenomenologicamente como se fossem próprios da pessoa, mas que na realidade formam uma personalidade emprestada.

Quando os elementos introjetados são consistentes ou sintonizados com pensamentos, sentimentos e comportamentos dos estados de ego Adulto ou Criança, em geral o indivíduo não tem consciência de que há qualquer angústia intrapsíquica. Entretanto, quando tais elementos são destoantes das experiências dos estados de ego Adulto ou Criança eles podem levar a uma desconfortável sensação de conflito interno."

Texto completo em: http://www.integrativetherapy.com/pt/articles.php?id=50

13.5.07

Censurado - Muito além do absurdo

Na mais recente recaída, a pretexto de proteger crianças e adolescentes (que é louvável) de conteúdos potencialmente impróprios difundidos por rádio e televisão, uma portaria do Ministério da Justiça lançou, um documento intitulado Manual de Classificação Indicativa.

Entre outras exigências, para obter sua classificação indicativa, o conteúdo dos programas deve ser visto e avaliado antes de ir ao ar. Serão funcionários do Ministério da Justiça, auxiliados por estagiários. O Manual de Classificação Indicativa tem um alto teor de dirigismo cultura. Um exemplo de sua fragilidade é oferecido pela seguinte passagem, que define "comportamentos repreensíveis e não desejáveis". Diz o manual: "São contextos/cenas/diálogos que exemplificam, valorizam ou estimulam comportamentos tais como irresponsabilidade, egoísmo, desonestidade, desrespeito para com os demais, manipulação, preconceito, ameaça, fuga de conflitos - sem que, ao mesmo tempo, haja uma clara mensagem de repúdio a essas práticas." A frase, em sua vaga e quase infinita abrangência, equivale a uma sentença de morte proferida contra doa e qualquer modalidade de trama.
Carlitos, o imortal vagabundo criado por Charles Chaplin, ou o atormentado Hamlet, de William Shakespeare, dificilmente sobreviveria a tal crivo.
(fonte: Época - abril/2007)

O que as ESCOLAS precisam aprender

Imagine que um cidadão tivesse dormido um século e acordasse agora.
O mundo seria uma grande surpresa para ele. Aviões. Celulares. Arranha-céus. Ao entrar numa casa, ele não conseguiria entender o que é uma televisão. Ou um computador. Poderia perder-se num shopping center. Mas, quando ele deparasse com uma escola, finalmente teria uma sensação de tranqüilidade. "Ah, isso eu conheço!", pensaria, ao ver um professor com um giz na mão à frente de vários alunos de cadernos abertos. É igualzinho à escola que eu freqüentei."

O método de ensino da escola hoje, é arcaico.
A escola se mantém fossilizada, num mundo que não pára de mudar. A escola como conhecemos hoje é fruto de uma sociedade forjada no século XVIII.

Essa escola, tão bem organizada ao longo de mais de dois séculos, já não responde às necessidades do mundo. A Revolução Industrial foi ultrapassada pela era da informação.

Há uma década, a força de trabalho era chamada de mão-de-obra. Na virada do século, essa expressão já tinha caído em desuso. Não é mais a mão, e sim a cabeça dos funcionários que interessa.
O ensino não pode mais ser um conjunto de conhecimentos que serve para a vida inteira. As pessoas vão precisar de algo diferente: habilidade de adquirir conhecimentos novos o tempo todo.
Vivemos afogados em informações. A escola ensina a degluti-las. Seguindo esses ensinamentos, vamos nos empanturrar de mensagens repetitivas, inócuas, contraditórias. Ela tem de ensinar a filtrá-las e encontrar o que interessa. Ensinar a escolher.

"A idéia é acabar com a divisão por disciplinas na formação do professor e criar cursos em grandes áreas do conhecimento". Já está se formando um consenso de que a educação terá de abrir mão do excesso de conteúdo das matérias lecionadas. Quando a lição não faz sentido para a vida do aluno, ele não a absorve. "Para adaptar o ensino ao mundo de hoje, precisamos de uma formação mais crítica e cultura, que envolva o cinema, o teatro e a vida urbana."

Quais seriam os princípios de um modelo de escola para o mundo de hoje globalizado, na era da informação?

Ítens apontados:

.Ter pensamento crítico
.Conectar idéias
.Saber aprender sozinho
.Conviver com pessoas diferentes
.Estabelecer metas e fazer escolhas
.Ter visão globalizada

(fonte: Época - abril/2007)

5.5.07

Você é um Asperger?

Os aspergers são autistas de "alto rendimento". Cultivam interesse obsessivo por um assunto e podem desenvolver habilidades fora do comum, como os savants (savantismo é a condição caracterizada pelo desenvolvimento de habilidades como a memória afiadíssima e a capacidade desenhar com perfeição; cerca de metade dos "savants" são autistas). Costumam ter dificuldade com os códigos sociais e metáforas, compreendendo tudo de maneira literal. Mas cada caso é um caso.
"Crianças com autismo clássico começam a falar mais tarde e algumas não desenvolvem a fala. As crianças com Aspergers começam a falar na idade esperada, mas sua linguagem pode não ser comunicativa. Elas possuem pouco ou nenhum déficit cognitivo, mas têm dificuldades sociais significativas."
Pessoas como os aspergers e os savants são obrigadas a conviver com uma difícil dualidade. Enquanto são brilhantes em uma determinada área do conhecimento, têm dificuldades em ações e tarefas que são naturais para qualquer ser humano. A dificuldade em interpretar emoções das outras pessoas e expressar as próprias, por exemplo, é algo comum dentro do espectro autista. "Quando faço uma ligação, tenho de fingir que sou outra pessoa. Assumir um 'papel' facilita muito a tarefa de ter que ser social", escreveu um asperger em um site de discussão. "Eu tive que aprender a interagir com as pessoas, como um ator aprende a interpretar uma peça de teatro", diz outro.
Outro traço que aparece com freqüência, embora não em todos os autistas, é o pensamento visual. "Eu penso sempre com imagens", diz um asperger. Habilidades com desenho aparecem com freqüência em crianças autistas, talvez como uma compensação pela dificuldade em se expressar verbalmente. Mas, mesmo com as limitações sociais e afetivas, muitos aspergers podem levar uma vida independente, o que não acontece com um autista clássico.
Um asperger diz que sentia falta de um contato físico carinhoso dos pais quando criança, mas ao mesmo tempo se apavorava com a idéia de ser tocada por outra pessoa. Os problemas sensoriais, como o incômodo com contato físico e a sensibilidade à luz e a ruídos são comuns entre os autistas. São questões que, mesmo nos asperges mais desenvolvidos socialmente, atrapalham a busca por uma vida "normal".
Mesmo entre os aspergers é difícil cultivar uma relação de amizade por causa dos comportamentos rígidos.
O lado negativo é que, quanto mais consciência sobre sua condição, maior o conhecimento sobre as limitações e o conseqüente sentimento de frustração.

Antes que você pense que há uma epidemia de autistas, é bom saber que esse aumento é, em grande parte, reflexo de uma mudança nos critérios de diagnóstico. Sempre houve um número muito maior de autistas do que os diagnosticados. Ampliou-se o conceito. Provavelmente muitos amigos nossos que consideramos meio esqueisitos, que têm difiiculdade de relacionamento e não gostam muito de sair de casa, hoje em dia caberiam no rótulo de Asperger.

(fonte: Galileu - maio/2007)

Aspergers famosos:
Albert Einstein
Isaac Newton

Mozart
Michelângelo
Bill Gates
Steven Spielberg
Stanley Kubrick (cineasta)
Syd Barret (vocalista do Pink Floyd)
Craig Nicholls (vocalista do The Vines)

Satoshi Tajiri (criador do Pokemón)

28.4.07

Assédio moral

A microviolênica do cotidiano – notas sobre o protofascismo invisível*

O recente projeto de lei que tipifica o assédio sexual, no Brasil, deixa escapar outro tipo de assédio mais abrangente e mais perigoso para a saúde mental da população: o assédio moral.
O assédio moral, por definição, é um tipo particular de abuso de poder que acontece de modo sofisticado e sutil de uma pessoa sobre outra, tomada como vítima. O assediador moral ou "perverso narcisista" (sic!) pratica compulsivamente a "conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano a personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa".
É quando alguém usa de palavras e/ou ações ambíguas (pouco claras de sentido, sutis) que não são imediatamente percebidas como sendo agressivas ou destrutivas, porque outras mensagens, emitidas simultaneamente com elas se confundem e, por isso mesmo, terminam por atingir a moral, a auto-estima e a segurança de outrem.
O conceito é oportuno nesses tempos pós-modernos, de traço narcísico-individualista que vivemos, pois procura abranger as microviolências ou violências invisíveis do cotidiano que sofremos quer com pessoas, quer com grupos e na convivência intra institucional.
Escolas, universidades e institutos, ao mesmo tempo que são reconhecidos por serem centros de excelência de ensino e de pesquisa, também tendem ser ambientes carregados de situações perversas com pessoas e grupos que fazem verdadeiros plantões de assédio moral. Com uma vantagem adicional: são ainda mais sofisticados nos atos de violência invisível, cuidando-se ao máximo para causar dano ao colega sem deixar pista.

Texto completo de Raymundo de Lima, em:
http://www.urutagua.uem.br//02ray.htm