13.4.08

Transtorno de Personalidade Borderline (Limítrofe)

Características Diagnósticas

A característica essencial do Transtorno da Personalidade Borderline é um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, e acentuada impulsividade que começa no início da idade adulta e está presente numa variedade de contextos.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline fazem esforços frenéticos para evitarem um abandono real ou imaginado (Critério 1). A percepção da separação ou rejeição iminente ou a perda da estrutura externa podem ocasionar profundas alterações na auto-imagem, afecto, cognição e comportamento.

Estes indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais. Eles experimentam intensos temores de abandono e raiva inadequada, mesmo diante de uma separação real de tempo limitado ou quando existem mudanças inevitáveis dos seus planos. Eles podem acreditar que este "abandono" implica que eles são "maus". Esse medo do abandono está relacionado a uma intolerância à solidão e a uma necessidade de ter outras pessoas consigo.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline têm um padrão de relacionamentos instáveis e intensos (Critério 2). Podem idealizar potenciais cuidadores ou amantes já no primeiro ou no segundo encontro, exigir que passem muito tempo juntos e compartilhar detalhes extremamente íntimos na fase inicial de um relacionamento. Pode haver, entretanto, uma rápida passagem da idealização para a desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente, não dá o bastante, não está "ali" o suficiente. Estes indivíduos podem sentir empatia e carinho por outras pessoas, mas apenas com a expectativa de que a outra pessoa "estará lá" para também atender às suas próprias necessidades, quando exigido. Estes indivíduos estão inclinados a mudanças súbitas e dramáticas nas suas opiniões sobre os outros, que podem ser vistos alternadamente como suportes benévolos ou como cruelmente punitivos. Tais mudanças frequentemente refletem a desilusão com uma pessoa cujas qualidades de devotamento foram idealizadas ou cuja rejeição ou abandono são esperados.

Pode haver um distúrbio de identidade caracterizado por uma auto-imagem ou sentimento de self acentuado e persistentemente instável (Critério 3). Mudanças súbitas e dramáticas são observadas na auto-imagem, caracterizadas por objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de opiniões e planos acerca da carreira, identidade sexual, valores e tipos de amigos. Estes indivíduos podem mudar subitamente do papel de uma pessoa suplicante e carente de auxílio para um vingador implacável de maus tratos passados. Embora geralmente possuam uma auto-imagem de malvados, os indivíduos com este transtorno podem, por vezes, ter o sentimento de não existirem em absoluto. Tais experiências habitualmente ocorrem em situações nas quais o indivíduo sente a falta de um relacionamento significativo, carinho e apoio.

Os indivíduos com este transtorno exibem impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais para si próprios (Critério 4).
Estes indivíduos podem apresentar pior desempenho em situações de trabalho ou escolares não estruturados.

As pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline apresentam, de maneira recorrente, comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou comportamento automutilante (Critério 5). O suicídio completado ocorre em 8 a 10% desses indivíduos, e os actos de automutilação, ameaças e tentativas de suicídio são muito comuns.
Tentativas recorrentes de suicídio são, frequentemente, a razão pela qual estes indivíduos procuram auxílio. A automutilação/autopunição pode ocorrer durante experiências dissociativas e frequentemente traz alívio pela reafirmação da capacidade de sentir ou pela expiação do sentimento de ser mau.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline podem apresentar instabilidade afetiva, devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., disforia episódica intensa, irritabilidade ou ansiedade, em geral durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias) (Critério 6). O humor disfórico básico dos indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline muitas vezes é perturbado por períodos de raiva, pânico ou desespero e,
raramente, é aliviado por períodos de bem-estar ou satisfação. Esses episódios podem refletir a extrema reactividade do indivíduo a stresses interpessoais.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline podem ser incomodados por sentimentos crônicos de vazio (Critério 7). Facilmente entediados, podem estar constantemente a procurar algo para fazer.

Os indivíduos com este transtorno frequentemente expressam raiva intensa e inadequada ou têm dificuldade para controlar sua raiva (Critério 8). Podem exibir extremo sarcasmo, persistente amargura ou explosões verbais. A raiva frequentemente vem à tona quando um cuidador ou amante é visto como negligente, omisso, indiferente ou prestes a abandoná-lo. Tais expressões de raiva frequentemente são seguidas de vergonha e culpa e contribuem para o sentimento de ser mau.

Durante períodos de extremo stress, podem ocorrer ideação paranóide ou sintomas dissociativos transitórios (por ex., despersonalização) (Critério 9), mas estes em geral têm gravidade ou duração insuficiente para indicarem um diagnóstico adicional. Estes episódios ocorrem mais comumente em resposta a um abandono real ou imaginado.

Os sintomas tendem a ser transitórios, durando minutos ou horas. O retorno real ou percebido do carinho da pessoa cuidadora pode ocasionar uma remissão dos sintomas.


Critérios diagnósticos

  • 1. Evita atividades que envolvam contato interpessoal significativo com outras pessoas devido ao medo da crítica, da desaprovação ou da rejeição.
  • 2. É incapaz de envolver com as pessoas a menos que tenha certeza de quer será aceito.
  • 3. Limitado em relacionamentos íntimos devido ao medo de ficar envergonhado ou do ridículo.
  • 4. Preocupação de estra sendo criticado ou rejeitado em situações sociais.
  • 5. Inibido em novas situações de contato interpessoal em função de sentimentos de inadequação.
  • 6. Tem uma visão de si mesmo como socialmente inapto, sem atrativos pessoais e inferior aos outros.
  • 7. Relutante em assumir riscos pessoais ou engajar-se me quaiquer novas atividades que possam resultar em embaraço.
(fonte: Clínica Dr. Shirley de Campos - Medicina Avançada, Tito Paes de Barros Neto)